quarta-feira, 24 de março de 2010

Dá risada e ri, ri , ri

Só pra afirmar novamente minha crença religiosa no que chamo de "Piada Cósmica".
Quebro os dentes da frente numa brincadeira sem medida com meu filho. No dia seguinte, me convidam para fazer propaganda da ODONTOSYSTEM. Eu aceito, faço o teste sorrindo like tabaroa e pasmem, passo. Conserto o abalo sísmico e gravo o comercial.
Todos os dias tenho zilhões de evidências sobre o funcionamento universal se pautar na milimétrica do escárnio rísivel em seus mais variados graus de complexidade.Alguém por favor queira me convencer que a tônica do COSMOS não é a ironia. Alguém. Alguém?! Alguém?! Al-guém ?! AL-GUÉM?!

(Cri-cri-cri-cri).


A-ham Cláudia, senta lá. Obrigada.




domingo, 14 de março de 2010

Fada do dente


Para 2010 eu fiz um programa megalomaníaco de metas, bastante especificadas, com planos de contingência e tudo. E, quando eu paro e observo, acredito piamente num encadeamento delas como eixos, engrenagens, sabe? Tem itens que ao dar certo acionam os demais e tudo gira em harmonia e constância (santa palavra). Em contrapartida, curto-circuito nessas peças fundamentais e todo o resto fica comprometido.
Ontem, estava no item "cuidados comigo", na tentativa de ser bonita, tentando manter a frequência dos cuidados, sendo digna com o programa alimentar. E poxa, se eu consigo combater meu senso permanente de inadequação e falta de confiança, por tabela consigo ser regrada nas finanças, na vida acadêmica, como artista (desculpem a palavra, não consigo encontrar outra melhor) e mãe competente; quando não, fico com tanta raiva de mim que a vingança é autossabotagem num nível comprometedor da vida social. Se insegurança foi tag 2009, dignidade lifestyle e materialismo são tags 2010, decidi e pronto.
E como ia dizendo, ontem estava com alguns pontos acima da média no carinho por mim mesma; cheguei do salão de beleza e organizei os preparativos para ir com meu filho ao show gratuito do Buena Vista Social Clube numa praia daqui de Salvador. Feito isso, arrumei a mim e ao Theo e fui alimentá-lo pra podermos sair. Theo estava particularmente ansioso, pedindo que eu desse comida contando a história dum livrinho pop-up que dei a ele recentemente. No clima de brincadeira, em vez de dar de comer na mesa, resolvi fazê-lo na rede (pode perguntar quem é a criança, eu deixo). Numa manobra de brincadeiras trogloditas entre meu guri de pouco mais de dois anos e meio e eu, aconteceu um pequeno acidente: impulso + força impossível de controlar do baby + risada e empurrão + eu segurando um prato = dente quebrado em pedacinhos, sangue escorrendo, beiços e gengivas machucados. Meus, é claro.
Fiquei deprimida, nem foi nervosa, de imediato. É engraçado como eu, de modo bastante consciente, sempre busco referências estéticas para saber como me sentir em determinadas circunstâncias.Imagens simultâneas dos losers de acidentes na dentição, William Macy em Magnólia e esse rapaz aqui+ o clipe Fingi na hora rir * do Los Hermanos ecoavam nas minhas vistas e a cara inconsolável de Theo, embora não chorasse, me paralisaram.
O automatismo com que essas referências vieram à tona me deprimiram por provar minha incapacidade de acreditar em altruísmo, autoestima e autoajuda sem uma pontinha (oi eufemismo) de desconfiança de que tudo se trata sempre do princípio de uma piada cósmica. Se a cartomante disser coisas ruins, irei me deprimir, se disser coisas boas, luminosas e sementes de prosperidade não conseguirei me desvencilhar da possibilidade de ser atropelada na esquina, pra dar sentido à Piada. Invejo muito O mundo onde as pessoas com objetivos lutam e conseguem as coisas,embora eu sempre duvide, até que essas pessoas exibam seus resultados. Invejo muito essa simplicidade, sério.O mundo comigo fazendo metas e me esforçando para ser fiel a elas não cola. Esse maniqueísmo, essa filosofia tão 2+2, tão lé com cré...a vida não pode ser isso, isso é só má literatura, só autoajuda, não faz sentido que a vida seja assim. A vida não pode ter esse modus operandi tão brega, tão alcoólicos anônimos,tão Igreja Universal do Reino de Deus, tão Renato Russo em véspera de morte. A Piada Cósmica,CAOS,obstáculo epistemológico,contingência e acaso parecem em termos estéticos de teoria mesmo, mais sofisticados,atraentes, e portanto, uma filosofia de vida mais aplicável,mais confortável de acreditar, um lugar menos brega de crer.
A carinha de Theo triste, automaticamente ciente de que não sairíamos mais coisa nenhuma e, um silêncio duradouro doeram. Mas doeu bem mais ouvir essa criancinha de dois anos pensativa e triste me dizendo que nem pedido pra Fada do Dente eu poderia fazer, "porque ela só aparece quando o dente tá inteilinho, e o seu, Mama, espatifou em um mooonte de pedaços. Você vai falar com ela mesmo assim, Mamanga?" Theo está começando a perceber o sentido da Piada e isso me preocupa.

SOBRE AS REFERÊNCIAS


* Acho a música meio babaca, mas o clipe onde a menininha super se achando A ADOLESCENTE que paquera e namora e não brinca na comemoração de seus 15 anos ganha uma boneca enorme, pouco tempo antes dos Parabéns, que é cantado com as vozes das tias velhas e o close nela, embaraçadíssima, fingindo rir, é situação emblemática pra mim.
Em Magnólia, William Macy faz o papel de Donnie Smith, um ex-garoto prodígio, ganhador do quiz kid, torna-se um adulto problema, com direito a emprego ridículo, atoleiro de dívidas, plano de humilhação diário aos chefes pra não ser demitido, paixão platônica por um cara com aparelho dentário e que desenvolve um foco obsessivo em pôr aparelho ortodôntico, porque em sua lógica, isso resolveria todos os problemas. O fato é que ele não precisava de aparelho. Mas toda a mobilização em torno do fato (envolvendo um acontecimento sobrenatural) cria uma circunstância onde tudo só fará sentido quando puser aparelho. O tal acontecimento faz com que ele quebre alguns dentes e nesse novo contexto pôr aparelho faz mais que sentido, torna-se necessário.
E o vídeo tosco do garoto tá aqui, porque a autoexposição de fragilidades patéticas faz com que eu crie empatia com este tipo de pessoa.